Um plano do Primeiro Comando da Capital (PCC) para realizar ataques contra servidores públicos e autoridades, incluindo homicídios e sequestro com extorsão, foi desarticulado pela Polícia Federal (PF) nesta quarta-feira (22). O ex-juiz e atual senador Sergio Moro (União Brasil-PR) era um dos alvos.
Até o momento, nove pessoas foram presas, sendo seis homens e três mulheres — todos estavam em São Paulo. Também foram apreendidas joias, dinheiro em espécie, celulares, uma moto e um carro de luxo. Outros dois procurados são do Paraná.
Ao todo, sete mandados de prisão preventiva e quatro de prisão temporária foram expedidos. Outros 21 mandados de busca e apreensão também estavam sendo cumpridos.
Quando ministro da Justiça, Moro foi o responsável pela transferência para penitenciárias federais de líderes da facção criminosa. A investigação da PF aponta que o PCC tinha olheiros para monitorar a casa do ex-juiz, além de sua mulher, a deputada federal Rosângela Moro (União Brasil-SP), e filhos.
Ainda conforme as autoridades, ao menos dez criminosos se revezavam no monitoramento, que aconteceria também em viagens fora do estado. Para isso, foram alugadas chácaras, casas e até um escritório ao lado de endereços do senador.
De acordo com relatos feitos à CNN, forças de inteligência apuravam ameaças contra ele desde janeiro. Entretanto, aliados de Moro ressaltaram que desde quando foi eleito senador, no ano passado, ele recebia ameaças.
Em fevereiro, o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), autorizou, a pedido de Moro, o emprego de escolta da Polícia Legislativa em agendas e viagens.
O promotor de Justiça Lincoln Gakiya, que desde o começo dos anos 2000 investiga a facção, e era outro alvo do grupo. Ele tomou ciência do plano e avisou à cúpula da Polícia Federal em Brasília, que designou um delegado para abrir uma investigação.
Segundo a PF, a organização criminosa agia em São Paulo, no Paraná, em Rondônia, no Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal. De acordo com as investigações, os ataques poderiam ocorrer de forma simultânea nessas cinco regiões.
Promotor alvo de ameaças fala à CNN
Em entrevista à CNN, o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, um dos alvos do plano do Primeiro Comando da Capital (PCC) para matar autoridades, pontuou que o isolamento do líder Marcola trouxe prejuízo financeiro à organização criminosa.
“Entendo que há conexão entre a remoção de Marcola [de Porto Velho para Brasília], no início de 2019, e os fatos de hoje. O isolamento do Marcola trouxe muito prejuízo financeiro para eles, além de gerar uma guerra interna [no PCC]”, explicou Gakiya.
Durante entrevista coletiva nesta quarta-feira (22), o ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), afirmou que protegeram a vida do ex-juiz e senador Sérgio Moro (União Brasil), adversário político do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Ele também negou qualquer relação entre a fala de Lula, nessa terça-feira (21), em que revelou o desejo de se vingar de Moro na prisão, e a operação da Polícia Federal.
“Evidentemente é impossível vincular um fato ao outro, porque nós estamos falando de horas, em relação ao inquérito policial que foi instaurado há semanas, e fatos que se reportam há meses”, disse o ministro.
“Mas o que nós fizemos foi, cumprindo a lei, proteger a vida do nosso adversário. É importante ter isso claro. Se nós não tivéssemos agido, aí sim poderia haver alguma ilação. Mas a Polícia Federal agiu de modo exemplar, e faço questão de assinalar que foi uma decisão da Polícia Federal atuar de modo exemplar”, complementou.
Pelas redes sociais, Sergio Moro agradeceu às forças de segurança e afirmou que fará um pronunciamento nesta tarde.
*com informações de Gustavo Uribe, Elijonas Maia, Thayana Araújo, Fernanda Pinotti, Débora Andreatto e Lucas Schroeder,da CNN
*publicado por Tiago Tortella, da CNN