O parto foi no dia 8 de junho, mas Cristiane somente conheceu a filha pessoalmente passados 21 dias do procedimento emergencial a que foi submetida no Hospital Universitário de Lagarto (HUL-UFS/Ebserh), realizado devido a complicações pela COVID-19. Cristiane na verdade foi mãe sem saber, já que o parto teve que ser feito enquanto estava intubada.
O encontro tão aguardado com a sua bebê aconteceu no final da tarde dessa terça-feira, 29, após a alta hospitalar. “Foi uma sensação inexplicável, ver, sentir, estar perto”, relatou a paciente após se encontrar com a filha Vitória em sua residência. “Estar com ela é o que estava faltando”, disse.
A paciente Cristiane Oliveira, 39, moradora de Lagarto, deu entrada no dia 8 de junho no HUL-UFS com queixa respiratória, cansaço e já na altura de 38 semanas de gestação. “Chegou com insuficiência respiratória aguda e precisou ser intubada por não responder às medidas iniciais de oxigenoterapia e fisioterapia”, pontua Martins Dionísio, clínico plantonista e primeiro profissional médico a atender a usuária na unidade hospitalar.
O anestesiologista que realizou o procedimento de intubação, Renan Argolo, observa que a decisão pelo parto de Cristiane em um hospital de Urgência e Emergência como o HUL se deu pela gravidade da situação. “Houve a tentativa de regular a paciente para a maternidade Nossa Senhora de Lourdes, especializada em casos como esse em Sergipe, mas não foi possível pelo quadro clínico instável da paciente, o que dificultava o transporte para Aracaju”, relata.
“Nesse momento houve então uma comunicação entre o HUL e a Maternidade Zacarias Júnior, também em Lagarto, com Dr. Washington, médico obstetra de plantão naquele momento, colocando-se à disposição para avaliar a gestante aqui no hospital, sendo decidido a partir daí pela conduta cirúrgica, interrompendo a gravidez pelo bem do bebê e da gestante”, descreve o anestesiologista.Todo o esforço foi para tentar salvar duas vidas’
“A saturação da paciente nesse momento, mesmo intubada, estava em 67% e o bebê já devia estar em algum grau de sofrimento”, continua dr. Renan. “Retirar a criança do útero materno, além de salvar o bebê, já que a mãe não estava conseguindo dar boa oferta de oxigênio, era dar uma chance à própria mãe”, diz. “Uma vez que, sem a presença do bebê no útero, a parte pulmonar dela melhorava, ainda que se mantivesse grave pela infecção”, complementa.
No Centro Cirúrgico do HUL, dr. Washington fez o parto auxiliado por dra Lívia, cirurgiã do hospital, com a equipe de pediatria da unidade hospitalar dando suporte ao procedimento. “O bebê nasceu com índice de vitalidade baixo, precisando ser intubado na sala cirúrgica ainda, ficando sob os cuidados da equipe de pediatria neste momento”, relata Argolo, lembrando que a criança evoluiu bem e no mesmo dia foi extubada, sendo depois transferida para a Maternidade Zacarias Júnior, onde teve alta poucos dias depois. “Todo o esforço foi para tentar salvar duas vidas”, destaca o médico.
“A mãe seguiu para a UTI, mas foi compensando até ser extubada cerca de 10 dias depois”, observa por sua vez dr Martins. “Graças à intervenção da equipe médica de urgência a vida binômio mãe e filha foi resolvida”, enfatiza.
‘A fé e a esperança nos desafiou’
“Empenho, atenção, disponibilidade e cooperação pelas duas vidas que necessitavam do nosso auxílio foram essenciais para o desfecho!”, destaca Danielle Loyola, médica anestesiologista do HUL. “Apesar da gravidade da situação, fiquei muito feliz e emocionada em poder ajudar e observar o empenho de todos os envolvidos nesse fato inédito para o Hospital Universitário de Lagarto”, diz.