A produção do camarão tem se destacado em Sergipe tanto que o estado se configura como quarto produtor do Brasil. Com o objetivo de garantir maior visibilidade ao produto, o Governo de Sergipe começou a inserir o camarão na merenda da Rede Estadual de Ensino. A implantação tem se mostrado uma ação estratégica, não apenas para promover uma alimentação saudável e diversificada aos estudantes, mas também para fortalecer a cadeia produtiva do crustáceo nas regiões sergipanas.
A ação é um dos compromissos de gestão do governador Fábio Mitidieri. Ao incluir o camarão no cardápio, o Estado, por meio da Secretaria de Estado da Educação e da Cultura (Seduc), agrega saúde, segurança alimentar e nutricional, desenvolvimento, regionalização e fortalece a agricultura familiar. Desta maneira, em julho deste 2023, foi lançado o programa Filé de Camarão na Alimentação Escolar. Para isso, o Estado adquiriu 10.205kg do crustáceo, distribuídos em cinco lotes, a 42 Centros de Excelência da Rede Pública Estadual.
A aquisição desses gêneros alimentícios serve de incentivo para a produção agrícola local e para o desenvolvimento dos municípios produtores do crustáceo. O programa Filé de Camarão na Alimentação Escolar é fruto de investimento na ordem de R$ 609.119,10. Com isso, cada escola faz o controle da oferta e da preparação mediante os Termos de Consentimento dos Pais ou Responsáveis Legais, que autorizam o consumo do camarão. Assim como todos os itens distribuídos para abastecer as cozinhas das escolas, o camarão também tem todo processo de distribuição por meio do Sistema de Alimentação Escolar (Saesc), monitorado pelo Conselho de Alimentação Escolar (CAE). Pelo programa, são atendidas escolas da rede pública localizadas nos municípios do Baixo São Francisco, região Sul e Aracaju.
Cadeia produtiva
A iniciativa implantada pelo Estado se deu a partir do compromisso assumido pela atual gestão, inspirado na experiência exitosa obtida em Indiaroba, sul do estado, município pioneiro a promover a inserção do camarão na merenda escolar. A inserção da proteína na merenda escolar beneficia toda uma cadeia de produção. A iniciativa vem a fortalecer a agricultura familiar de Sergipe para a comercialização dos produtos agropecuários por meio da compra direta e geração de renda (Lei 11.947, de 16 de junho de 2009 e Resolução FNDE de 08 de maio de 2020). Desta maneira, toda uma logística foi acionada pelas cooperativas de agricultura familiar participantes do edital, mobilizando, principalmente, os pequenos produtores de camarão.
Um dos beneficiados, o pequeno produtor Eduardo de Oliveira Chagas, 48 anos, morador do Povoado Cajuerinho, em Indiaroba, destacou que a inserção do camarão na merenda escolar da rede estadual fortalece a produção e proporciona uma renda regular aos criadores. “Isso foi muito bom, porque fortaleceu a venda, já que a gente tinha um pouco de dificuldade para escoar nossa produção. Graças a Deus, para vender ficou muito mais fácil. Melhorou 100%. Antes a gente criava com medo de não ter para quem vender e hoje a gente já tem certo para quem vai entregar o camarão. Então a nossa renda aumentou muito, assim como as áreas de criação de camarão. Tudo isso melhorou a vida de todos os criadores. Aumentou a nossa renda em torno de 80%”, disse o produtor, que trabalha no ramo desde 2007.
Desenvolvimento econômico
Ao incentivar o consumo como parte das refeições escolares, o Governo de Sergipe contribui diretamente para o desenvolvimento econômico local. Segundo o presidente da Cooperativa de Produção e Comercialização de Agricultores Familiares da Agricultura do Estado de Sergipe (Cooperafi), Marcos Paulo Pereira dos Santos, a ação valoriza os produtores e pescadores de camarão, estimulando a produção e comercialização deste importante recurso natural.
“A carcinicultura tem a sua relevância no estado, tanto que influencia na economia local. Nós temos muitas famílias que estão envolvidas nessa atividade e foi com esse intuito que nos mobilizamos para dar uma atenção para essa atividade e, principalmente, aos pequenos, que têm mais dificuldade de se articular no mercado, dominar a logística e fazer investimentos”, disse. Nos últimos três anos, revela o presidente da Cooperafi, têm sido feitos estudos e apresentados a alguns fóruns, nutricionistas, Estado e prefeituras. Foi feito o primeiro teste com o município de Indiaroba, pioneiro na inserção do camarão na merenda escolar. A iniciativa foi bem-aceita e esse ano o Governo do Estado se sensibilizou, colocando-o na merenda das escolas estaduais.
“Além disso, tem mais algumas prefeituras que já se interessaram e estão se organizando para que, a partir do ano que vem, também possam inserir o produtor. Portanto, esse mercado institucional é novo, está em plena expansão, e só tende a favorecer a organização e articulação do pequeno produtor”, avalia. Para ele, isso vai possibilitar um equilíbrio nesse segmento, que favorece tanto o mercado institucional como o varejista. Além disso, vai fortalecer a inclusão social, já que o programa envolve somente os pequenos produtores, compostos em grande parte por mão de obra familiar. “Então é uma forma de melhorar a renda e possibilitar a aquisição de bens, além do acesso a outros itens essenciais à sobrevivência”, comentou o presidente.
Marcos Paulo ressalta ainda que a atividade dialoga com o desenvolvimento sustentável e a preservação ambiental. “Temos um compromisso com a questão ambiental. A gente tem apresentando para o campo algumas estruturas que a gente chama de ecologicamente correta, a exemplo do reaproveitamento da água e de energia. Então, desenvolvemos um trabalho na região, junto às prefeituras, por meio de programas ambientais promovidos nessas comunidades costeiras”, ressaltou.
Benefícios nutricionais
Planejado inicialmente para o atendimento às unidades integrais da DEA e das DREs 1 e 6 por serem regiões de grande produção do produto, o programa Filé de Camarão na Alimentação Escolar demonstra o respeito à regionalização dos hábitos alimentares e faixa etária dos alunos. O crustáceo é um alimento típico de Sergipe, além de ser altamente nutritivo, ele é rico em vitaminas do complexo B e ômega 3, que auxiliam no desenvolvimento, aprendizado e outras funções cognitivas.
De acordo com a nutricionista da Secretaria de Estado da Educação e da Cultura (Seduc), Dayanne Marques, a necessidade de diversificar os nutrientes minerais para o aporte nutricional dos alunos promoveu a inserção do item na merenda. “Antes a gente tinha somente a carne bovina e de aves e precisávamos de mais alguma proteína para diversificar os nutrientes, incluindo assim novas preparações e novos alimentos. Foi pensando nisso que nós avaliamos a inserção do camarão na merenda. Além da contribuição nutricional, temos o fator econômico e social, no intuito de fomentar e ajudar na agricultura familiar. Desta forma, é uma ação que tem sido um sucesso para ambos, tanto para os alunos quanto para o agricultor. A ideia é que no próximo ano a gente consiga incluir em todas as escolas estaduais”, indicou.
Valor cultural
Outro fator importante na inclusão do filé de camarão na merenda escolar é a possibilidade de proporcionar aos estudantes a oportunidade de conhecer e apreciar os alimentos típicos da região, valorizando a cultura local e promovendo hábitos alimentares saudáveis desde a infância. O estudante Wesley Alves, do Centro de Excelência Arquibaldo Mendonça, em Indiaroba, já está acostumado com o produto no seu cotidiano. Para o morador do Povoado Cajuerinho, a inclusão do camarão é uma forma de valorização da cultura local. “É muito bom, já tenho o hábito de consumir camarão na minha casa porque na região em que moro tem bastantes viveiros. Então está sendo uma satisfação muito grande poder comer o camarão na merenda”, relatou o estudante do 2º ano.
A inclusão do produto na merenda escolar também é destacada pela estudante Diandra Silva Conceição. Para ela, a ação é importante para a diversificação do cardápio da merenda escolar. “A aceitação está sendo muito boa. Já tenho costume de comer camarão. Então para mim foi muito tranquilo”, frisou.
Ações estratégicas
A inserção do camarão na merenda escolar da Rede Estadual de Ensino faz parte de uma série de ações estratégicas do Governo de Sergipe para impulsionar e fortalecer a cadeia produtiva do crustáceo no estado. Além da inserção do camarão na merenda escolar da rede por meio do programa que fortalece a carcinicultura e estimula o escoamento dos produtos, permitindo que os produtores tenham um mercado consumidor garantido, o Estado realiza a regularização da atividade por meio da concessão de licenças ambientais concedidas pela Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema), trazendo segurança jurídica aos produtores.
Além disso, fazem parte dessas ações estratégicas de apoio à carcinicultura no estado, o Cadastro de Agricultores Familiares (CAF), por meio da Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro), que permite que os pequenos produtores rurais de Sergipe possam atuar e comercializar sua produção de camarão de forma regulamentada.
Desta forma, essas ações do governo demonstram o compromisso em promover o desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva do camarão em Sergipe, proporcionando benefícios tanto para os produtores quanto para a economia estadual como um todo.
Iniciativa pioneira
Quarto produtor de camarão do Estado de Sergipe, com 200 hectares de lâmina d’água de produção de camarão, Indiaroba se mostra em plena expansão do produto. Por ano, são produzidos em torno de 600 toneladas de camarão. 92% da produção é disponibilizada a compradores, que destina este camarão para a Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, 3% são processados, 1% vendido aos restaurantes da região, e 4% a lojistas e feirantes. A receita anual com a produção de crustáceo chega a 10,8 milhões, gerando mais de 250 empregos diretos e 150 indiretos no município. São 70 produtores, a maioria reunida na Associação dos Carcinicultores de Indiaroba e região, sendo 30% destes carcinicultores familiares.
O secretário de Educação de Indiaroba, Ginaldo Custódio Lessa, explicou que foi pensando no potencial regional do crustáceo que o produto passou a ser inserido na merenda da rede municipal de ensino, que é composta por 3.411 estudantes em 14 escolas. “Já são dois anos de inserção do camarão na merenda. O incremento na alimentação escolar foi algo surreal. Além de fomentar a cadeia produtiva do camarão em nosso município, eleva os nutrientes para as nossas crianças e adolescentes, onde estimula a aprendizagem. A receptividade está sendo perfeita. No início fizemos o teste de aceitabilidade na comunidade escolar e depois demos seguimento com a implementação do produto, com termo de consentimento dos pais. Hoje, nós realizamos constantemente monitoramento e acompanhamento pela nutricionista. Toda a equipe de merendeiras foi treinada. Aliás, elas tiveram um papel crucial no quesito paladar e no estímulo à aceitação desse produto. Desta maneira, a gente fica muito feliz, e, principalmente, os nossos estudantes”, revelou o secretário.