Palavras de fortalecimento e que tentam resgatar a autoestima das mulheres. São essas as mensagens que pretendem ser repassadas por meio do projeto ‘Empoderar Mulheres para o mundo ficar Odara’, desenvolvido no Presídio Feminino (Prefem), em Nossa Senhora do Socorro. Em alusão às festividades de momo, o projeto criou o kit Carnaval, com a intenção de somar-se às ações já desenvolvidas no estado contra o assédio e a violência contra as mulheres, como explica a diretora do Prefem, Andrea Andrade.

“O projeto já existe há um ano e meio. Nesse espaço, funcionava uma fábrica de costura que atendia a demandas internas, como consertos de uniformes. Então, a gente teve a ideia do Odara. Agora, para o carnaval, resolvemos fazer essa ação contra o assédio, porque, infelizmente, é algo comum, principalmente, nesse período. O Odara é uma oportunidade de oferecer um momento de humanização. A mulher sai do cárcere e se depreende das celas para refletir aqui no projeto. O Odara é um espaço que inspira confiança e um trabalho de empoderamento também”, afirmou Andrea.

Ecobegs, que podem ser utilizadas na praia ou em blocos de carnaval; bolsinhas que funcionam como porta garrafa de água e lixeiras para automóveis são alguns dos objetos confeccionados pelas 11 internas que participam do projeto. Todos os itens contêm mensagens contra o assédio, como forma de dialogar com as mulheres que utilizarão as confecções fora do presídio.

Para a interna A.S, 53 anos, as mensagens despertam a consciência da violência sofrida por meios de atos muitas vezes vistos como comuns, mas que tipificam o assédio, como puxar uma mulher pelo braço ou cabelo em um bloquinho, ou atitudes mais extremas, como não aceitar uma resposta negativa da mulher diante de uma tentativa de algum tipo de relacionamento. “Mesmo aqui dentro reclusa, eu sinto que faço parte de algo ao apoiar às mulheres lá fora para que elas tenham essa consciência”, disse.

Ainda segundo a interna, o projeto desperta um lado que muitas vezes as mulheres não conseguem enxergar em si, da força que existe em cada uma. “Nós mulheres também somos empoderadas aqui dentro. Quando a gente consegue adquirir confiança em si mesma, percebe que tudo pode dar certo. Essa é a mensagem que eu deixo para as mulheres que estão lá fora: acreditem em si, porque vocês conseguem! Cada peça aqui é feita com muito amor, porque cada saudade que a gente tem por nossa família, nós transportamos para aquela peça. Aqui as emoções são mais intensas”, concluiu.

De acordo com a custodiada I.S, 29 anos, ao passo que o projeto ajuda a empoderar as mulheres livres, também fortalece as que enfrentam a situação de prisão. “Acredito que a gente está ajudando de alguma forma porque somos mulheres também, entendemos o que é o assédio e podemos ajudar outras mulheres a superar essas situações. Muitas mulheres passam por assédio no trabalho, na rua ou em casa e se calam, mas não é porque estamos no presídio que vamos virar às costas para o que acontece. Aprendi muito com o projeto, na costura a gente aprende a desabafar e pensar. Por exemplo, quando a gente sofre com nossos maridos em casa, a primeira coisa que o homem faz é tentar baixar a nossa autoestima, falar que somos feias, e quando a gente borda uma frase dizendo: você é forte, toda vez que olharmos para aquele pano, vamos lembrar que somos fortes, aquela frase vai nos dar força”, expôs I. S.

A campanha do carnaval contou ainda com o apoio de um estudante de designer da Universidade Federal de Sergipe (UFS) que, voluntariamente, produziu o layout dos produtos e uma artesã voluntária, que auxilia as interna na criação das peças. A ideia da gestão do Prefem é que os produtos sejam distribuídos entre as servidoras da Sejuc e comercializados em ambientes colaborativos, que promovem a economia criativa.

Para a professora voluntária Eliana Gomes, a campanha desmitifica a situação de que a mulher é submissa ao homem e a parte fraca dentro da sociedade. “A mulher tem o poder de exercer seus direitos e é importante que ela reconheça as situações de abusos ou violência em locais públicos ou dentro de casa”, defendeu a instrutora.

Eliana explicou que o trabalho com as internas que participam do Odara é uma experiência de troca e crescimento. “Trago para elas um pouco do que sei e elas trazem um retorno mais do que esperando e gratificante. Ao tentarmos profissionalizá-las, temos a esperança que com isso elas não retornem para o sistema carcerário após cumprirem sua pena”, enfatizou.

Odara

O projeto Odara capacita mulheres em situação de prisão, que trabalham no Odara Ateliê, no desenvolvimento de produtos que possam passar mensagens de conscientização voltadas à força da mulher e seus direitos.

“A gente recebeu um material apreendido pela Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz), contendo tecidos e começamos o projeto. A nossa primeira peça confeccionada foi uma ecobeg, pois as famílias às vezes traziam alguns materiais de higiene pessoal para as internas em sacolas de plástico e, pensando na sustentabilidade e para evitar lixo nas celas, criamos essas bolsas. A partir daí, vieram outros produtos e foram chegando vários parceiros que, através de oficinas, foram repassando as técnicas para elas”, acrescentou Andrea Andrade.

Quanto ao nome do projeto, a diretora informou que é de origem hindu e também faz referência a musica homônima de Caetano Veloso. “Significa estar livre, bem, na paz, então a gente entende que quando as internas estão aqui nesse espaço, elas estão em seu melhor estado de espirito, produzindo”, colocou.

Hoje, o Presídio Feminino do Estado possui 235 internas. Edjane Lima Marinho trabalha há 16 anos no Prefem e, atualmente, pé vice-diretora da unidade. A gestora avalia que a capacitação profissional melhora a disciplina das internas. “Também melhora a empatia de umas com as outras, as fortalecem e as transformam delas, ao mesmo tempo em que pode transformar outras pessoas. Elas acabam sendo multiplicadoras do processo aqui dentro”, pontuou.

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