Dom Távora: Cadernetas Agroecológicas revelam importância da contribuição da mulher do campo na renda familiar

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Dados apresentados pela Coordenação de Desenvolvimento de Capacidades do Projeto Dom Távora demostram o valor do trabalho feito pelas mulheres do campo. O levantamento trata da implementação das Cadernetas Agroecológicas em 12 comunidades rurais sergipanas, atestando a importância da participação econômica das mulheres na renda mensal familiar e na segurança alimentar e nutricional das famílias. A metodologia utilizada pela assistência técnica do projeto mostrou-se capaz de revelar o impacto econômico monetário e não monetário produzido pelas agricultoras, já que elas usam a Caderneta para anotar, diariamente, tudo que trocam, doam, consomem e vendem.

A iniciativa de implementação das Cadernetas Agroecológicas tem o incentivo e apoio do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e do Programa Semear Internacional, instituições que têm levado com sucesso a metodologia a outros projetos no Nordeste como Pró-Semiárido (Bahia), Paulo Freire (Ceará), Viva o Semiárido (Piauí). No estado de Sergipe, foi estabelecida pelo Projeto Dom Távora, por meio da Secretaria de Estado da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e da Pesca (Seagri), onde está localizada a Unidade Estadual de Gestão do Projeto, em parceria com a Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro).

Resultados

O trabalho com as mulheres sergipanas se iniciou em setembro de 2019, com dois grupos. Em 2020, já são 12 comunidades em oito municípios, com 112 agricultoras utilizando as cadernetas. O balanço do primeiro semestre deste ano revela que o valor da produção das agricultoras registrado nas cadernetas foi de R$ 178.806,00. O valor médio da produção de cada agricultora chegou a R$ 493,00/mês – representando quanto, em média, cada agricultora contribui economicamente com sua família, ao longo de um mês. O levantamento destaca a comunidade de Cacimba Nova, município de Poço Verde, onde um grupo de nove mulheres, nos primeiros seis meses do ano – mesmo com a pandemia da Covid-19, produziu o equivalente a R$ 33.199,00. Outro destaque foi para o povoado Lagoa Grande, em Simão Dias, onde um grupo de 15 mulheres produziu R$ 31.801,00, no mesmo período.

A agricultora do povoado Cacimba Nova, Ana Maria Oliveira, avalia que os resultados são surpreendentes. “O resultado da aplicação das Cadernetas surpreende até a gente, que não tinha noção de quanto era nossa contribuição para a renda da família. Serviu, também, para nos alertar para aproveitar os quintais produtivos para outros negócios”, disse Maria. Outra agricultora, Agna dos Santos Menezes, do povoado Lagoa Grande, em Simão Dias, se diz animada com as anotações. “No início, achávamos que íamos perder tempo anotando nosso consumo e venda; hoje, me sinto valorizada com o resultado. Então, se compro uma galinha, anoto; se vendo uma ovelha, anoto e, no final do mês, tenho ideia do quanto vendi ou deixei de comprar”, comenta Agna.

A equipe técnica do projeto destaca que, embora boa parte das relações computadas sejam não monetária – relações socioeconômicas sem uso do dinheiro como consumo, doação e troca, – as análises que complementam as Cadernetas, a partir dos dados coletados, permitem que toda produção agrícola esteja representada em termos monetários. O valor mensal médio da produção por agricultora agrega o dinheiro advindo da comercialização dos bens e a quantia que a família deixa de gastar, como resultado do trabalho da agricultora. “Esses valores produzidos pelas mulheres do campo normalmente são invisibilizados, desconsiderados nas análises econômicas tradicionais. Daí a importância das cadernetas, justamente porque fortalece o trabalho das mulheres, evidenciando esse potencial econômico produzido por elas. Observem que o valor médio produzido (entre R$ 350,00 e R$ 493,00/mês) é maior do que o auxílio emergencial do governo federal na sua segunda fase. A gente destaca que esse resultado financeiro, de quase R$ 180 mil, representa o trabalho com 112 mulheres. Se projetarmos esse resultado para a população rural de mulheres com as mesmas condições, veremos que a capacidade produtiva é muito representativa”, avalia a consultora do PNUD para o Dom Távora, Daniela Bento,  que assessora as mulheres atendidas pelo projeto.

Com o resultado positivo das Cadernetas Agroecológicas, a Seagri sinaliza para ampliação de outras comunidades para além do Projeto Dom Távora. “O valor deste trabalho não está apenas no valor econômico, mas também na valorização do papel da mulher nas relações sociais e familiares, na produção agroecológica, visto que elas produzem uma variedade de produtos orgânicos responsáveis por uma alimentação saudável. Nossa ideia é expandir o projeto para outras comunidades com o apoio de parcerias institucionais como a Emdagro e o Incra, nas áreas de reforma agrária. Tentar levar para outras comunidades tradicionais quilombolas”, afirma o secretário de Estado da Agricultura, André Bomfim.

Atualmente, as cadernetas estão implementadas nas comunidades: Cacimba Nova, São José e Saco do Camiso (Poço Verde); Ladeirinhas (Japoatã); quilombo Caraíbas (Canhoba); assentamento Padre Nestor (Pacatuba); comunidades José Félix e quilombo Mocambo (Aquidabã); quilombo Sítio Alto e Lagoa Grande (Simão Dias); Nova Brasília (Tobias Barreto)  e quilombo Catuabo (Aparecida).

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