Pouco mais de um mês do início das medidas de isolamento social, já se observa uma queda expressiva na adesão da população. A taxa média de adesão ao isolamento, que antes girava em torno de 60%, agora é inferior a 50%, quando o ideal seria superior à 70%. Para o médico infectologista Matheus Todt, professor da Unit, o mais alarmante é que entramos no período mais crítico da epidemia em nosso país, no qual os registros de casos, e de mortes, crescerão cada vez mais rápido.
“No estado de Sergipe, até o dia 20 de abril, foram confirmados 92 casos de infecção pelo Coronavírus, sendo registrados cinco óbitos pela doença. Vale ressaltar que 48h antes, o número de infectados era de 71 pessoas, ou seja, observou-se um aumento de mais de 22% no número de casos em dois dias”, alerta.
O novo Coronavírus, ou SARS-CoV-2 como foi denominado, ainda é uma microorganismo pouco conhecido. Diante de tantas dúvidas em torno do novo vírus, um ponto é unanimidade entre os especialistas: o isolamento social é a medida mais efetiva para retardar a evolução da pandemia. No atual estágio, o recomendável, segundo o especialista, seria o isolamento de toda a população, o chamado isolamento horizontal. O uso de máscaras, seja cirúrgica, N95 ou mesmo de tecido, não é, na opinião de Todt, uma medida suficiente para retardar a progressão da doença, sendo praticamente ineficaz se não associada ao isolamento da população.
“O exemplo mais emblemático sobre a importância do isolamento social vem dos Estados Unidos, atual epicentro da pandemia. Enquanto o estado da Califórnia, um dos primeiros a notificar casos de COVID-19 no país, registra aproximadamente 31 mil casos da doença e cerca de 1.200 mortes, o estado de Nova Iorque soma mais de 250 mil infectados e quase 15 mil óbitos pela doença. O principal responsável por essa diferença tão expressiva foi o isolamento social. Enquanto a Califórnia iniciou precocemente a restrição de mobilidade e o isolamento social, Nova Iorque retardou a adoção dessas medidas” comparou.
Para o infectologista, apostar que medicamentos eficazes irão surgir, como um “passe de mágica”, é outro grande equívoco. Apesar das inúmeras pesquisas para avaliar diferente tipos de drogas para o tratamento da COVID-19, ainda não há evidências de que sejam eficazes ou mesmo seguras. “Em um estudo publicado recentemente em um periódico de grande impacto na área médica, o Journal of the American Medical Association, os autores concluíram que, até o momento, nenhuma terapia mostrou-se verdadeiramente efetiva no combate à doença”.
Matheus Todt chama ainda a atenção para o fato de que Sergipe é um estado com mais de 2,3 milhões de pessoas e conta com apenas 59 leitos de UTI e 133 leitos clínicos de retaguarda para o enfrentamento da doença. “Se houver um abandono precoce das medidas de isolamento social, o número de infectados irá aumentar de forma rápida e não haverá leito para todos. Cenários com pessoas morrendo nas portas dos hospitais, recentemente visto em alguns estados do país, podem ser uma triste realidade no nosso estado caso não tomemos os devidos cuidados”, alerta.
Fonte: Ascom Unit