Índios Xokós comemoram a ‘Festa da Retomada’ nesta sexta-feira, dia 9

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O Povo Xokó é o único grupo étnico indígena de Sergipe reconhecido pelo estado brasileiro. Seu território localiza-se na região do semiárido, município de Porto da Folha, margem direita do Rio São Francisco, a 155 km de Aracaju. As Ilhas de São Pedro e Caiçara são locus para 400 pessoas, segundo dados do Instituto SocioAmbiental (ISA). Nesta sexta-feira, dia 9, os indígenas sergipanos comemoram a Festa da Retomada, recordando a data em que o seu povo viveu por anos embaixo de árvores e retomou a sua terra, no ano de 1979.

“É um momento de celebração e manifestação da nossa cultura. Comemoramos todos os anos porque foi a partir da nossa saída da Caiçara para a Ilha de São Pedro que começamos a conseguir a nossa liberdade. Mas, isso custou caro. Tivemos uma grande matança, ameaças e perseguição a grupos indígenas. Fomos impedidos de dançar e cantar o nosso Toré. Um tempo difícil para os nossos parentes”, recorda o indígena da etnia Xokó, Lindomar Santos Rodrigues, mais conhecido como Lindomar Xokó, que foi o primeiro indígena a ocupar um cargo político no Estado, atuando como vereador na Câmara de Porto da Folha, em abril de 2019.

De acordo com a antropóloga Beatriz Góis Dantas (1980), desde o final do século XVII, os indígenas da missão de São Pedro conseguiram o domínio reconhecido sobre as terras, que lhes foram cedidas pelo instituidor do Morgado de Porto da Folha. Por isso, viveram tensões e dissensões próprias das comunidades dos povos originários e, nos dias atuais, seguem reconstruindo sua identidade, que tem nos torés um portal que os conduz ao encontro com o sagrado.

Para Lindomar, o povo Xokó sofreu bastante, mas é possível contabilizar muitas conquistas desde a retomada. “Hoje somos um povo autônomo, praticamente. Nós temos um serviço de saúde bastante estruturado, prestado pela União, temos transporte sanitário, água tratada de excelente qualidade, postos de saúde e escola. Nossa comunidade também é contemplada pelos programas sociais do Governo. Nosso principal problema hoje está no acesso à aldeia, pelas péssimas condições da estrada. Mas, infelizmente, essa é uma realidade de toda região, digo até de todo o Estado, e eu estou na luta para mudar isso”, afirma o ex-vereador que, atualmente, colocou o seu nome à disposição para disputar as eleições de 2022 para o cargo de deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

Representante do Povo
Lindomar luta agora para ser o primeiro representante indígena do povo sergipano na Assembleia Legislativa. O Xokó tem uma longa história de militância na política indigenista brasileira pouco conhecida por seus conterrâneos. Há 12 anos, foi um dos protagonistas na luta pela construção de uma política de saúde voltada exclusivamente para os povos indígenas do Brasil, com a criação da SESAI (Secretaria Especial de Saúde Indígena). Ocupou diferentes cargos atuando no controle social indígena, a exemplo da presidência do conselho de saúde do distrito de Sergipe e Alagoas, por três mandatos, e assessor indígena dos distritos da Região Nordeste. Por anos, ocupou um assento estratégico no Conselho Nacional de Política Indigenista, importante colegiado ligado ao Ministério da Justiça.

“Consegui trazer muitas coisas para a nossa comunidade, a exemplo de equipes de saúde, com presença de médicos, a construção do posto de saúde, saneamento básico nas residências, construção de reservatórios e rede de abastecimento de água. Como vereador de Porto da Folha, fiz o que realmente se espera de um vereador, que é fiscalizar junto à comunidade a execução do orçamento municipal, de denunciar abusos e lutar para que projetos importantes, que impactam diretamente na vida das pessoas, possam ser executados. Por isso, já me sinto um líder realizado, mas sei que posso ajudar mais. Decidi entrar para política partidária e me candidatar a deputado estadual, pois quero lutar por todas as minorias do nosso Estado”, explica o indígena.

Lindomar conclui convidando todos os sergipanos para conhecer de perto a aldeia da tribo Xokó, bem como os seus costumes, a luta, e todas as conquistas dos únicos índios do Estado. “Venham para a nossa Festa da Retomada. A celebração configura um ambiente de análise sobre a autoafirmação identitária do nosso povo Xokó. Para comemorar, faremos apresentações de danças indígenas (o toré) e a cerimônia religiosa. Um verdadeiro mergulho na história de luta dos Xokós”, convida a liderança indígena.

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